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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Micro-conto II

(http://midnightsunshine.forumeiros.com/)


Só não a conheço do avesso, que o avesso dela não está no Google. Mas sei o bastante para desejar infinita distância entre nós. Desalmada cruel, que me roubou o chão! Segue com seu rastro de destruição. Eu sigo bem sem você. - Magaly Arruda

SOU PROFESSOR!

(Google)
Nasci para acreditar num futuro distante; para jamais separar o joio do trigo porque, diante dos meus olhos, inexiste joio. Nasci pra crescer aprendendo e envelhecer ensinando, ainda que rindo das piadas verídicas das quais sou sujeito. Nasci para ter consciência de que jamais saberei de tudo, jamais esgotarei os limites do saber, que estou sempre a conhecer, pois o conhecimento está sempre passos à frente da humanidade. Nasci para crer. Nasci pra entender pessoas do 0 aos 100 anos, pacientemente ética e independentemente da minha idade. Nasci para fazer brotar cidadãos autônomos a partir de burocracias engessadas. Nasci para olhar nos olhos e amar instantaneamente, mesmo que meu coração se arrebente depois; e fazer três a seis turnos de trabalho diário: para ser mãe, mulher, profissional e ainda achar um tempinho pra sonhar. Nasci pra acreditar que, um dia, os olhinhos que miraram em mim serão os olhos dos governantes, dos estudiosos e dos geriatras... e nunca admitir que estarão às margens. Mas, ainda muito me faltou... faltou nascer com quatro braços e um par de asas super-sônicas; faltou separar meu dia dos dias comuns, pra que eles pudessem ter 36 horas; faltou a visão menos míope, pra enxergar que nem todos se lembrarão de mim ou serão bons pelo simples fato de terem passado por minhas mãos. Faltou menos recheio e mais massa nesse sonho de mim... Faltou ter menos esperança de que, no próximo mandato, "as coisas vão melhorar". Faltou criatividade pra motivar um menino e paciência com a mãe que não educou. Mesmo assim, mesmo com tantas carências em mim, dou meu melhor! Nasci para crer, afinal! E mesmo sem um par de asas, me sinto alada. Talvez eu não seja tão querida quanto suponho e talvez, também, eu ame menos do que acredito. Mas não vou abrir mão desse amor: eu vou lutar! Sou professor! - Magaly Arruda